domingo, 6 de setembro de 2020

O enorme visionário Eça de Queirós



Nós Estamos num Estado Comparável à Grécia  

Nós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da arte.
Eça de Queirós, in 'Farpas (1872)

AS CRISES CADA VEZ MAIS FREQUENTES




Nas últimas décadas, as crises financeiras e económicas têm sido cada vez mais frequentes e profundas. Com efeito, a crise do Leste asiático foi apenas a mais recente de um grande número de crises. Nos últimos 100 anos registaram-se crises financeiras ou económicas em aproximadamente cem países. Já se tornou quase mais vulgar ter uma crise do que não ter. (Joseph Stiglitz ex-economista chefe do Banco Mundial). Confira aqui

O afundamento da economia portuguesa

A Economia Portuguesa tem três graves problemas , a saber :
1º – Défice das Finanças Públicas
2º – Endividamento Externo Galopante
3º – Baixíssimo Crescimento Económico

Portugal tem um problema grave de finanças públicas. Depois da maior crise de que há memória, e das medidas para a contrariar, ficámos com um défice insuportável que o actual plano de austeridade vai procurar corrigir. Os sacrifícios vão ser enormes. Mas já se sabe que, a seguir ao défice, vem a dívida acumulada, com números de arrepiar. O que só pode traduzir-se por sacrifícios adicionais - sabe-se lá até quando!
Portugal tem outro problema grave de endividamento externo. Fruto de uma atitude suicida que percorreu vários governos, fomo-nos habituando a gastar o que tínhamos e o que não tínhamos até descambarmos neste inferno: já devemos mais do que a nossa própria produção! Mas nem assim arrepiámos caminho.
Portugal tem um terceiro problema, o mais grave de todos, ligado à anemia económica e à falta de emprego. A última década foi de uma extrema crueldade: crescemos a um ritmo anual inferior a 1%, quando precisávamos de três vezes mais; afundámo-nos em produtividade e em competitividade externa; e a taxa de desemprego pulou de uns confortáveis 4% para mais de 10%. Ou seja, o Estado social faliu.

O futuro do ensino...


O ministro da Educação tem de ter coragem em relação às reformas: ou deixa tudo na mesma, o que é mau para o futuro, ou enfrenta os burocratas que lhe vão dar amargos de boca...

O senhor ministro, na tomada de posse, pediu "uns dias para aterrar". Inteiramente justo, se for sua intenção fazer a limpeza dos estábulos de Augias, dos detritos de seis anos de caos e incompetência no Ministério da Educação. Era também nossa intenção - nem só de luta vive o homem - aguardar calmamente as primeiras decisões da sua equipa.
Porém, parece que alguns gabinetes do (agora seu) ministério acharam que era chegada a altura de redobrar de actividade. Foi o caso da Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação (DGRHE), que, precisamente na véspera da tomada de posse, decidiu bombardear as escolas com mais uma das suas célebres aplicações informáticas, no caso relativa à Avaliação do Desempenho Docente (ADD).
O mais avisado teria sido - face ao compromisso de acabar com a actual ADD, assumido diversas vezes pelos partidos do actual governo, e em particular pelo PSD - que a DGRHE aguardasse as decisões do novo ministro. E (porque não?) aproveitasse a pausa para tentar compreender como foi possível que anteriores aplicações informáticas tivessem calculado para professores diferentes, mas com pontuações idênticas nos parâmetros de avaliação, Bons de 7 e Bons de 9. Sabia disto, professor Nuno Crato?
Não conhecemos em pormenor as suas ideias para a avaliação dos professores, embora saibamos que defende que esta deve ser externa (precisamente o oposto da actual) e incidir no trabalho com os alunos (a actual mede acima de tudo o relacionamento interpessoal entre os docentes e os órgãos de gestão). No que respeita à avaliação dos alunos, assunto em relação ao qual conhecemos melhor as suas opiniões, tem dito repetidamente que lhe falta seriedade, que os exames actuais não são fiáveis e que, para poderem ser credíveis, deveria ser uma entidade independente a fazê-los - e não o próprio ministério, por estar ele próprio (interesse directo) a ser avaliado pelos exames que elabora.
Não nos parece que necessite que lhe avivem a memória - o intenso debate que culminou na revogação parlamentar, se teve um grande mérito, foi revelar a natureza kafkiana (o adjectivo é de Passos Coelho) do modelo - sobre os motivos por que a ADD herdada do governo anterior carece em absoluto de fiabilidade, de credibilidade e de isenção. Que é tão pouco séria que foi sempre preocupação dos legisladores impedir que se divulgassem as classificações, dada a inexistência de qualquer relação entre estas e o mérito do avaliado.
Se o processo não for travado, o que se vai ver nas escolas durante o próximo mês é o preenchimento atabalhoado de dezenas ou centenas de folhas (com fotos à mistura, de iniciativas mais ou menos folclóricas) contendo as chamadas evidências que (mesmo sendo genuínas) pouco ou nada terão a ver com o trabalho, os conhecimentos e a dedicação de cada professor à aprendizagem dos seus alunos. Sem exagero, o mais tosco e menos bem conseguido dos exames do ensino básico será cem vezes mais fiável que este modelo de avaliação de professores.

Dívida, Perdão, Gratuitidade - Em que ficamos?



Falamos de Dívida quando realizamos uma espécie de enxertia. Uma dívida mais não é que a inclusão do trabalho dos outros no nosso próprio trabalho. De um modo lato, definimos como Trabalho todo o esforço realizado na transformação do meio envolvente. Assim, quando precisamos de crédito, no fundo estamos a pedir a ajuda dos outros.
No entanto, esta ajuda não é gratuita – caso contrário, os outros (os credores) estariam a dizer que o trabalho emprestado seria um trabalho sem valor, logo inútil. E, para a maioria de nós, o trabalho reflecte (muito) esforço. Assim, a dívida de hoje tem de ser paga amanhã.
Uma boa dívida segue uma regra de ouro já conhecida na Antiguidade. O trabalho que fazemos amanhã deve ser suficiente para pagar o trabalho que outros nos emprestaram hoje. Assim, uma boa dívida é aquela que nos faz trabalhar mais. Pelo contrário, uma má dívida é aquela que fez com que um conjunto acumulado de trabalho emprestado fosse perdido. Assim, para que uma dívida seja considerada boa, o trabalho final (nosso e dos outros, hoje e amanhã) deve ser maior com dívida do que o trabalho final (nosso e dos outros, hoje e amanhã) sem a dívida.
Desta forma, confirmamos que a dívida faz parte do capital social. Assim como o perdão ou a dádiva (vejam O Espírito da Dádiva, de Godbout). Existe racionalidade nalguns casos de “perdão da dívida” como já foi o caso de países africanos e sul-americanos. Nesses casos, os credores renegociaram os termos de amortização da dívida porque perceberam que seria melhor fazerem esta redefinição (“perdão”) do que sufocarem os países devedores (houve casos, como Moçambique, onde o país teria que trabalhar três anos só para pagar a dívida nacional, não tendo lugar a outra qualquer despesa, mesmo de subsistência). Esta é a solução preconizada por Shakespeare em O Mercador de Veneza.
Finalmente, questiona-se, onde entra a dádiva? A dádiva tem cinco motivações principais: altruísmo, egoísmo, justiça, estratégia e sobrevivência social. O indivíduo avaro no extremo não sobrevive nas nossas sociedades de “homo sapiens sapients”. Diariamente, damos. Desde o estratégico “bom dia” até donativos anónimos. Desde um beijo familiar até uma conferência científica. Como na dívida, enxertamos valores, ideias, ideais e acções nos outros. E como no perdão, redefinimos as nossas relações. No fundo, redesenhamos a nossa concepção do mundo.

A fraude das empresas de Rating - Ministério Público investiga essas empresas




Quatro ilustres economistas portugueses fizeram uma denúncia ao Procurador Geral da República de Portugal contra as três empresas de rating americanas.
Noticia a imprensa que essa denúncia teve provimento e o DCIAP iniciou uma investigação.
As empresas de rating têm tido um papel extremamente controverso no dealbar da crise financeira de 2008. Dois relatórios do Senado Americano, a FCIC e o relatório Levin (sobretudo este), são muito impressivos quanto às falhas e aos evidentes conflitos de interesse que permearam as empresas de rating.
Não obstante, a avaliação global que é feita é a de que as empresas de rating falharam rotundamente nos mercados imobiliários, nomeadamente no crítico rating dos CDO, mas, no essencial, têm acertado nos mercados de crédito – nomeadamente na dívida soberana.
O rating é uma relação contratual aberta efectuada a pedido e paga pelos emissores. É igualmente um passaporte para os mercados internacionais de dívida dado ser métrica chave para uma esmagadora maioria dos investidores internacionais. Uma entidade sem rating não tem a mínima hipótese de financiamento internacional.
Imagine-se que as empresas de rating, a conselho dos seus advogados, decidiam cessar os seus serviços de avaliação da dívida pública portuguesa. À atenção de quem de direito, é um cenário que seria mesmo melhor pensar que não existe.